Ingenuidade
Fiquei arrasada. Imagina só onde esteve aquela cera que elas usam quando depilam seu buço! MEDO.
Tenho muito sono de manhã
A Patrícia, uma amiga também jornalista, me mandou dois textos sobre a cartilha Potiliticamente correto, "distribuída na última semana a parlamentares, professores, policiais, jornalistas, organizações não-governamentais e pessoas envolvidas com políticas de direitos humanos".
Comecei dizendo a ela que achava essa história de politcamente correto um saco e entramos numa discussão por email. A minha opinião é de que, no caso do uso de certos termos, o preconceito tá muito mais no contexto, na criação de estereótipos etc. Depende do contexto. Dizer que alguém é preto não é preconceituoso, mas dizer "seu preto" (considerando "preto" um xingamento) ou "preto safado" é. Questão de bom senso.
O Zuenir Ventura publicou ontem no Globo uma coluna sobre o assunto. Ele também acha que a carga tá muito mais no contexto do que num termo em si. Claro que concordo que certas coisas devem ser evitadas. Como falar "paraíba" ou "baiano" com a intenção de ofender ou desmerecer alguém (assim como "negro" pra ofender). Alguns termos trazer uma carga pejorativa, sim. Há casos e casos. Mas eu mesma chamo meu irmão mais novo de "neguinho", de forma carinhosa, e ele me chama de "neguinha". A palavra, aí, ganhou outra conotação. Diferente de se referir a alguém como "aquele neguinho ali".
Um exemplo: eu tenho um irmão que tem síndrome de Down, o Breno (esse mesmo que chamo de neguinho). Uma vez, numa discussão, chamei ele de retardado e minha mãe ficou puta. Mas eu não chamei ele no sentido pejorativo, me referindo ao fato dele ter síndrome de Down: chamei como qualquer irmã xinga um irmão quando briga, chamei como chamo meu irmão mais velho. Até porque não considero a síndrome de Down um retardo, e sim uma série de características, só isso.
Acredito, por outro lado, que muitas palavras já perderam a carga preconceituosa. Por exemplo: mulata. Não vou dizer que uma pessoa que tenha traços de miscigenação seja negra. Porque ela não é! Quem tem traços de DUAS raças não é negro! Nos EUA, por exemplo, até faz sentido: lá qualquer pessoa com mistura é considerada negra. Mesmo que seja um loiro de cabelo enrolado ou lábio mais grosso, por exemplo.
Mas também não concordo com esse papo de "liberdade de imprensa" que muita gente usou pra criticar a cartilha. Isso pra mim é balela, não é por aí que critico o policamente correto. A questão são os excessos, só isso. Nem todas as palavras que surgiram de hábitos preconceituosos trazem essa carga ainda ou sempre. Assim como palavras inocentes em seu surgimento (em termos etimológicos) hoje têm uma carga pejorativa. Exemplo? "Medíocre". Significa "na média", mas todo mundo encara como "ruim".
Enfim, é um longa discussão. Sou uma pessoa que atenta ao preconceito o tempo todo, até porque sei que não tô livre de ser preconceituosa em algum momento, de alguma forma. Mas também acho que o exagero pode gerar distorções, vide os Estados Unidos. Lá todo mundo se ofende com tudo, ninguém pode nada. Haja paciência.
E mais: os eufemismos usados para substituir certos termos muitas vezes são ridículos. Sinceramente? Não acho que chamar alguém que vive na rua de "pessoa em situação de rua" vá mudar a realidade dessa pessoa. Nem mesmo em termos de auto-estima.
No fim, só concordo plenamente com uma coisa: foi gerada uma discussão em torno do assunto e isso é importantíssimo.